A sigla CFIT (pronuncia-se: Sê–Fit) é conhecida largamente na aviação.
Significa Controlled Flight Into Terrain, ou seja, o avião colide com o solo mesmo estando em perfeitas condições sob o aspecto mecânico da aeronave ou ainda do meio externo na qual ela se encontra.
Dentre os acidentes aéreos, os do tipo CFIT são maioria, e no aeromodelismo não é diferente. Na realidade quase todos os acidentes com aeromodelos se enquadram nessa categoria.
São várias as causas que levam à queda um avião, ou aeromodelo em perfeitas condições de vôo. A mais evidente no aeromodelismo é a falta de treino ou experiência, principalmente no início, se o piloto voar sem um instrutor para assumir os comandos após um erro.
No entando, essa causa tem um remédio simples, que reduz muito as quedas desse tipo: Treino com instrutor.
Observação: simulador RC é bem útil, mas é incompleto por ainda não apresentar todas as variáveis encontradas no vôo de verdade.
Mas existe outra perigosa causa que leva ao CFIT aeromodelistas muito experientes e bem treinados: é a ilusão de óptica, que às vezes nos prega peças, e pode nos fazer cair em sua armadilha! É sobre isso que falaremos nesse artigo.
Citarei alguns casos e algumas formas de tentar evitar ou pelo menos diminuir bastante a consequência desastrosa da ilusão de óptica em nossos vôos.
São muitas as ilusões de óptica conhecidas, no entanto, a que realmente nos interessa no aeromodelismo é aquela onde o cérebro tem a perigosa opção de escolher entre duas posições de um objeto. No link abaixo, o cérebro pode escolher em que sentido a figura gira:
http://blog.rachacuca.com.br/2007/06/ilusao-de-optica-da-dancarina/
(Se tiver dificuldade em abrir este link, encontre outro no Google, procurando por: Ilusão de óptica bailarina)
Neste exemplo, vemos a silhueta de um cubo:
Nosso cérebro deve decidir o que quer enxergar...
Pode decidir por isso:
Ou isso:
Aqui o cérebro tem que escolher novamente:
E escolhe isso:
Ou isso:
Aqui o aeromodelo está de perfil, e o cérebro não tem dúvidas sobre sua posição:
Mas aqui, o cérebro tem a perigosa opção de escolha :
E escolhe isto: | Ou isto |
Nos exemplos acima, o cérebro tem a chance de escolher posições diferentes para os objetos, pois estes se encontram com pouca coloração, o que diminui a percepção de sua real posição.
Se usarmos cores vivas, e principalmente, diferentes padrões de pintura, mesmo com uma luminosidade não tão boa teremos mais chance de perceber a posição correta do aeromodelo.
Exemplo: Seu aeromodelo apresenta faixas vermelhas na parte de baixo da asa, que são paralelas entre si, e ligam o bordo de ataque ao bordo de fuga. E a parte de cima da asa possui faixas amarelas, que seguem paralelas, da raiz até a ponta da asa.
Pois bem, sabendo disso, fica muito mais fácil identificar a atitude do aeromodelo.
Vemos aqui o avião num dia de excelente luminosidade:
Inclinado para a direita | Inclinado para a esquerda |
E aqui, o mesmo avião numa situação de pouca luminosidade:
Inclinado para a direita | Inclinado para a esquerda |
Note que identificação das cores fica bastante prejudicada em situações de baixa luminosidade, e é na verdade a primeira coisa que deixaremos de distinguir, mas os diferentes padrões na pintura são bem visíveis.
Isso explica, porque é mais fácil definirmos a posição dos aeromodelos principalmente pelos diferentes desenhos na pintura entre a parte de cima e de baixo.
Porém, por mais vivas que sejam as cores e por mais diferentes que sejam os padrões de pintura entre a parte de cima e de baixo, podemos ainda assim enxergá-lo como se fosse completamente pintado de cinza escuro, ou preto. Para isso, basta voarmos muito distantes, ou em condições de menor luminosidade, como em um dia nublado ou próximo ao nascer ou pôr do sol.
Aliás, não é raro aproveitarmos a atmosfera calma do final da tarde, e voarmos até enxergar o aeromodelo como se fosse inteiramente pintado de preto, como na foto a seguir:
A situação mais perigosa ocorre em dias nublados com ar turbulento, pois além da luminosidade ser reduzida , a turbulência pode mudar a inclinação da asa do aeromodelo, e nesse momento, o piloto terá que escolher para que lado aplicar comando para nivelar a asa novamente.
Nessa hora, se apenas a silhueta do avião estiver sendo vista , temos que escolher entre dois comandos: direita ou esquerda, e temos somente 50% de oportunidade de sucesso imediato na recuperação do vôo reto nivelado.
Abaixo seguem alguns vídeos onde se observa que existe grande possibilidade de as quedas terem ocorrido devido a comandos aplicados por meio de uma percepção errônea do operador em relação a atitude do aeromodelo ( ilusão de óptica ). De todo modo, os vídeos são de grande valor instrutivo e sedimentam o entendimento do assunto.
(se o video não aparecer por algum motivo, procure por "B52 RC Takeoff and Crash" no YouTube)
Aqui temos um dia nublado com ar turbulento, e um avião escala com pouco contraste na pintura.
Dica: dê pausa nos vídeo e analise a imagem parada nos tempos mostrados abaixo:
Aqui temos um avião com pouco contraste na pintura, voando um pouco distante:
Em ambos os casos, num determinado momento o cérebro escolhe entre duas posições do aeromodelo, e erra. Desse momento em diante, as correções nos comandos são feitas de forma invertida, e o aeromodelo inclina ainda mais. Ilusões de óptica desse tipo normalmente levam à queda, ou no mínimo , a um grande susto.
Aqui temos uma situação onde a ilusão se dá após um snap roll muito rápido. Normalmente este tipo de manobra faz com que o aeromodelo assuma qualquer atitude na saída, tomando algum tempo do piloto para identificar a posição do avião.
Fatores que contribuem bastante para a ilusão de óptica no aeromodelismo:
As situações acima se agravam se os seguintes fatores forem somados:
Eliminar a ilusão de óptica é algo improvável, pois somos naturalmente sujeitos à ela; No entanto, existe uma técnica de pilotagem que pode ajudar a evitar sua consequência ruim em nosso vôo.
A técnica é utilizada para identificar a correta posição do aeromodelo no momento que a ilusão de óptica ocorrer. É um pouco difícil de explicar usando um texto, e uma filmagem seria muito mais didática, mas vamos lá :
Este é o ponto perigoso !
Nesse momento de dúvida, o que se deve fazer nos comandos é o seguinte: Use um pouco (bem pouco) de comando de ailerons (roll), e veja o que acontece com a imagem de seu aeromodelo.
Exemplo: (Figura A)
A | B |
A | B |
Este método pode parecer simples e óbvio, mas numa situação de ilusão de óptica e sem a noção desse recurso, normalmente se aplica o comando já no sentido de corrigir o que se achava ser a posição real do avião, e existe grande probabilidade de colocá-lo em atitude anormal. Por isso é que devemos primeiro aplicar um pequeno input de comando de roll, para nos certificarmos de sua posição, e após termos certeza, finalmente aplicamos ailerons para nivelarmos a asa. É como se usássemos o comando de ailerons em duas etapas: Primeira etapa: - comando de ailerons breve, ( apenas uma amostra), para identificar a posição do aeromodelo. Segunda etapa: - comando propriamente dito, para corrigir a inclinação e nivelar a asa.
Hoje em dia contamos com rádios virtualmente imunes à interferência, mas a falha humana causada por limitações nos nossos sentidos é dificil de combater por completo.
Apesar do problema causado pela ilusão de ótica poder ser drasticamente diminuído usando-se equipamentos de estabilização eletrônicos, vimos que com técnicas relativamente simples também podemos aumentar nosso sucesso ao nos depararmos com esse tipo de situação.
Abraço a todos,
Sandro Poli