Voar com os pés no chão
Há muita coisa entre o céu e a terra que nossa vã filosofia não consegue
compreender. Um dos habitantes desse espaço aéreo são os aeromodelos - pequenos aviões equipados ou não com motores, e que só voam por possuírem em seus projetos os mesmos conceitos básicos que norteiam a construção das grandes aeronaves. Sem os aviões a história da humanidade seria outra e sem os aeromodelos a história da aviação também, porque é a partir destes “aviõezinhos" que se constroem os aviões de verdade.
ESPORTE CIENTÍFICO
O homem inventa o avião, objeto mais pesado que o ar, que decola, voa e retorna ao solo sob seu controle. Primeiramente pelas mãos do brasileiro Santos Dumont em 1906 em Paris, embora o mundo sob influência americana credite a invenção do avião aos Irmãos Wright, que em 1903 voaram e pousaram com sucesso, só que o aparato não decolava por si, era impulsionado por uma catapulta. Pouco tempo depois o fascínio pela aviação fazia surgir miniaturas reduzidas em escala. Nascia o aeromodelismo, rica mistura de esporte com ciência, sem haver o risco de vida que rondava audazes pilotos que buscavam desenvolver a arte de voar a bordo das loucas aeronaves que começavam a riscar os céus da Europa e América do norte. No aeromodelismo voa-se com os pés nos chão. Há mais de 40 anos o caminho se inverteu. Nenhum
dinheiro é gasto na construção de um avião real sem que seu protótipo em escala (aeromodelo) seja testado exaustivamente até provar a viabilidade do projeto. Isso gera incalculável economia de divisas para projetistas e construtores.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O Brasil convive com o aeromodelismo desde 1941, cujo ponto de decolagem foi a construção de modelos para a prática de vôo livre (planadores ou tracionados por hélices impulsionadas por elásticos), não possuindo motores elétricos ou a explosão, que só vieram mais tarde com o vôo circular controlado por cabos. Depois, voando junto com a eletrônica, vieram os sistemas de rádio-controle, desligando fisicamente aeromodelo e piloto, dando verdadeira noção do real ao esporte. Em função da queda dos custos predomina hoje os sistemas rádio-controlados. O avião pode ser construído por mãos habilidosas em qualquer fundo de garagem. Réplicas bem detalhadas são adquiridas em lojas especializadas. Rádio-controle, motores e acessórios igualmente estão disponíveis em grande quantidade. Os custos estão ficando cada vez menores. Hoje pode-se iniciar no esporte comprando tudo sem gastar mais do que uns 600 dólares. Nos EUA esse valor cai pela metade.
NÃO É BRINQUEDO
Erra feio quem considerar aeromodelismo brinquedo de criança. A razão é simples: conceitos científicos de aerodinâmica norteiam a construção do
modelo, passando depois pelos procedimentos de decolagem, vôo nivelado ou acrobático e pouso no solo. Aquele construído com fundamentos básicos comprometidos voará com defeito ou nem decolará. A Federação Internacional de Aeromodelismo regulamenta competições oficiais nas mais diversas categorias, que vai do modelo estático (réplicas) até modalidades (pilon-race) onde se voa a 400 km/hora. Indústrias se dedicam a construção desses pequenos aviões, movimentando peças, acessórios e milhões de dólares pelo mundo todo anualmente. Qualquer filme que envolva sinistro de aeronaves emprega aeromodelos. A naturalidade é tanta que julgamos estar vendo cenas
reais. Por razões óbvias de custo os aviões de verdade ficam nos hangares ou museus da aviação, ao invés de serem explodidos no ar no destroçados no solo como as imagens nos fazem crer. Hollywood também não seria a mesma sem os aeromodelos.
ATENÇÃO E REFLEXOS
Aeromodelo em vôo é um avião sob comando do piloto que está em terra firme.
O movimento dos controles tanto poderá proporcionar bonita manobra no espaço como acidentar o aparelho. Por isso atenção e velocidade nos reflexos do piloto (no solo) são checados a cada momento. Pilotos de aviões verdadeiros dizem que é mais difícil pilotar o aeromodelo do que o avião real. No solo o piloto só tem olhos e ouvidos ligados na sua máquina voadora. Se muitos aeromodelos voam simultaneamente a audição fica prejudicada, portanto só restando os olhos para colher as informações. Erro grave à baixa altura implica em avião caindo. Existem boas razões para se cometer erros no aeromodelismo. Por exemplo, se o aeromodelo representar um avião real na escala de 1 por 10, entende-se que ele traduza em tudo a décima parte do real. Em tudo, exceto na velocidade dessas maquininhas fantásticas.
Imaginemos que o avião verdadeiro voe a 400 km/hora. Sua réplica nesta escala deveria voar a 40 km/hora. Errado! Dependendo da potência do motor ou em mergulho este mesmo aeromodelo atinge velocidades próximas a 120 km/hora.
Concentração ao máximo, pois aí a exigência é redobrada.
O PRAZER DE VOAR
Pequenos aeroportos ou áreas descampadas (sem casas, árvores, fios de luz ou obstáculos nas cabeceiras da pista) podem servir como local para se praticar o aeromodelismo. Somente quem pilotou um aeromodelo pode sintetizar o que consiste esta façanha. É uma terapia, adrenalina pura, com riscos relativamente muito baixos. Não é bicho-de-sete-cabeças praticá-lo. Comece sempre buscando aconselhamento de colegas mais experientes. Inicie voando com instrutor e avião lento do tipo "treinador", que tem maior sustentação que modelos acrobáticos ou 100% escala. Se possível pratique num simulador de vôo em computador. Deixe de lado conceitos auto-suficientes como já sei
tudo, é barbada, posso voar sozinho... Lembre-se que existe dois tipos de
aeromodelistas: o que já derrubou seu aeromodelo e o que ainda vai derrubar.
Calma e acúmulo de horas de vôo sempre serão bem-vindos. As pessoas têm orientação espacial diferentes entre si. Portanto, manobras fáceis para alguns podem ser complicadas para outros. Também adquirimos cacoetes como sempre pilotar visualizando o modelo por trás. Isso funciona bem até que ele vem em nossa direção no procedimento de pouso. Quem já voou sabe!
Infelizmente o esporte já perdeu muitos aprendizes apressadinhos que após sucessivas quebras jogaram a toalha e desistiram. Na verdade houve falhas ou queima de etapas no aprendizado.
APROXIMANDO PAIS E FILHOS
Além de ser um esporte que, pela dedicação, incentiva o aprendizado no campo da ciência, portanto educativo, o aeromodelismo tem tido função até social nas famílias, unindo pais e filhos, duas gerações que insistem em falar línguas diferentes. A linguagem do esporte transcende fronteiras de idade. O convívio de beira-de-pista com outros praticantes eleva o relacionamento das pessoas entre si. Para compreender melhor o aeromodelismo o praticante busca conhecimentos de aviação, podendo surgir daí futuros pilotos que vão seguir carreira na aeronáutica, civil ou militar. Como o esporte é coisa de gente com cabeça no lugar, todos crescem. Juntos, o que é decisivo.
Voar com os pés no chão... só pra dizer que estou vivo!
Voar com os pés no chão... só pra dizer que estou vivo!
"O Rebelde"
Não como chuchu e não arroto peru!!!
FREQUENCIAS: 72.830, 72.290, 72.170.
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- Antonio Carlos
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meu pai (que não é aeromodelista, mas sempre foi meio curioso) acabou de ser operado de cancer, vai ter de fazer rádioterapia e quimioterapia também.
ele está bem, vai sobreviver, mas ta meio baleado. Está voltando agora a trabalhar.
ultimamente tenho o visto sentado na cadeira em frente a TV ou trabalhando na mesa da sala, sempre meio desanimado.
Vez ou outra ele tenta se meter nos assuntos de alguém, acho que para ter um pouco de atenção ou se sentir útil de alguma forma.
Outro dia ele me perguntou: "Marcos, cadê aquele seu cesna que você me mostrou?"
eu contei que a fixação do motor tinha arrebentado denovo e que eu tinha tirado todo o equipamento de dentro daquela jaca e jogado o avião dentro do armário para montar outro. Ele pareceu ter ficado mais decepcionado com o fiasco do Cesna do que eu.
Então, sexta-feira passada eu imprimi a planta do buster (que é talvez o avião mais facil de montar que eu conheço) e disse pra ele: "Pai, me ajuda aqui? Tem alguma idéia de como eu posso fazer esse pedaço aqui?"
pronto, só precisou isso para o velho ficar alegre denovo.
meu pai (que não é aeromodelista, mas sempre foi meio curioso) acabou de ser operado de cancer, vai ter de fazer rádioterapia e quimioterapia também.
ele está bem, vai sobreviver, mas ta meio baleado. Está voltando agora a trabalhar.
ultimamente tenho o visto sentado na cadeira em frente a TV ou trabalhando na mesa da sala, sempre meio desanimado.
Vez ou outra ele tenta se meter nos assuntos de alguém, acho que para ter um pouco de atenção ou se sentir útil de alguma forma.
Outro dia ele me perguntou: "Marcos, cadê aquele seu cesna que você me mostrou?"
eu contei que a fixação do motor tinha arrebentado denovo e que eu tinha tirado todo o equipamento de dentro daquela jaca e jogado o avião dentro do armário para montar outro. Ele pareceu ter ficado mais decepcionado com o fiasco do Cesna do que eu.
Então, sexta-feira passada eu imprimi a planta do buster (que é talvez o avião mais facil de montar que eu conheço) e disse pra ele: "Pai, me ajuda aqui? Tem alguma idéia de como eu posso fazer esse pedaço aqui?"
pronto, só precisou isso para o velho ficar alegre denovo.